Você está pensando em comprar um papagaio?
Então considere estes fatos:
Papagaios cativos são animais carentes, estressados e frustrados:
A inteligência* dos papagaios é uma das razões que os fazem tão queridos por nós humanos. Por outro lado, é também a sua inteligência que os tornam muito sensíveis ao cativeiro. Papagaios engaiolados não podem expressar dois comportamentos profundamente enraizados no seu instinto: voar e socializar com indivíduos da mesma espécie. Na natureza, papagaios geralmente vivem em pares ou grupos, voando longas distâncias todos os dias para procurar alimento e congregando em grandes bandos para passar a noite. A falta destes estímulos sociais e ambientais levam a desvios de comportamento, tais como agressão (ver adiante) e ações estereotipadas locomotoras (fazer movimentos repetitivos sem sentido, tais como mover a cabeça de um lado para o outro ou caminhar em círculos) e orais (arrancar as próprias penas ou morder as grades da gaiola). Embora tendo causas diferentes, estes comportamentos assemelham-se ao autismo humano. A propósito, criadores argumentam que seus papagaios foram selecionados para a vida em cativeiro. Isto não é verdade. Enquanto que cães e gatos acompanharam o ser humano desde épocas remotas da civilização, evoluindo como animais domésticos, papagaios de criadouros não estão distantes mais que uma ou duas gerações de seus antepassados silvestres, retendo quase todas as características de instinto e comportamento dos indivíduos silvestres.
*”Inteligência” é um assunto polêmico, sujeito a diferentes definições e interpretações, mas pesquisadores abordam o problema dividindo-a em componentes, as chamadas habilidades cognitivas: capacidade de compreender, aprender, fazer inferências, tomar decisões, generalizar, e assim por diante. Seja qual for a habilidade cognitiva considerada, os papagaios estão no topo da pirâmide do reino animal, junto com os primatas, golfinhos, e mesmo bebês da nossa própria espécie.
Papagaios em cativeiro são sujeitos a doenças e lesões. Como as necessidades nutricionais dos psitacídeos (papagaios, araras e periquitos) são pouco conhecidas, mesmo donos cuidadosos raramente alimentam seus papagaios adequadamente. Tanto assim que a desnutrição ou distúrbios clínicos relacionados à alimentação são as principais causas de atendimentos de papagaios no ambulatório de aves do hospital veterinário da USP. A desnutrição também aumenta a suscetibilidade a outras doenças sérias como a aspergilose e pneumonia. Mais ainda, os desvios de comportamento causados por confinamento e isolamento podem ser tão intensos que causam traumas físicos, fato frequentemente demonstrado em autópsias de aves cativas.
Papagaios são irriquietos, barulhentos e fazem sujeira. Além de estar ciente das dificuldades e custos para alimentar e manter corretamente um papagaio, seu dono tem que estar preparado para tolerar muita sujeira – inevitável para uma ave de porte razoável – e ruído. Desgosto e irritação devido a contínua algazzarra e a presença de penas, restos de comida e cocô espalhados pela casa são as razões principais para a doação ou venda particular de papagaios. Com o aumento do comércio legal destas aves, pode-se esperar que muitas terão destino semelhante ao de milhares de gatos e cães – enjeitados por equívoco dos donos, que não previram os encargos e aborrecimentos causados por animais de estimação. E a dor de cabeça provocada por papagaios é duradoura: eles podem viver de 30 a 80 anos em cativeiro.
Papagaios são agressivos. Pessoas que vivem com um papagaio, mesmo que pacato e brincalhão, podem contar como certo que cedo ou tarde serão vítimas de bicadas dolorosas e de vandalismo; morder e mastigar objetos fazem parte do instinto de todos os psitacídeos como meio de estabelecer sua posição na hierarquia do grupo e defender território, além de reação de medo ou tensão sexual. Papagaios também mordem para brincar, mesmo que o alvo da sua afeição possa ser ferido seriamente.
Comprar um papagaio, mesmo legalmente, promove o tráfico de animais silvestres. Ter um animal exótico e fascinante como um papagaio incentiva outras pessoas a querer um também, mas o custo de uma ave criada legalmente é muito maior do que no mercado negro. Como a repressão ao tráfico é ineficiente e as penalidades para este tipo de infração são irrizórias, as pessoas são tentadas a comprar um papagaio contrabandeado da floresta ao invés de adquiri-lo na loja de animais. De fato, estudos demonstram que há uma correlação positiva entre o comércio legal de papagaios e o seu tráfico. Isto é muito preocupante porque o contrabando continua a ser a principal causa de risco para as espécies de psitacídeos ameaçadas de extinção. Fiscalização e punições praticamente inexistentes também criam vastas oportunidades para fraudes, já que e fácil falsificar os requerimentos de um animal obtido legalmente; os próprios órgãos de
proteção ambiental reconhecem isto. A propósito, muitos criadouros comerciais difundem seu suposto papel conservacionista: na verdade este comércio não contribui em praticamente nada para a proteção de papagaios, como reiterado seguidamente por organizações oficiais e não governamentais.
Em suma, você e seu papagaio não serão felizes – mas pode-se afirmar isto para uma ave? “Felicidade animal” é ainda mais difícil de definir e quantificar do que inteligência, mas existem critérios razoáveis para pelo menos avaliá-la subjetivamente. A declaração universal do bem-estar animal, proposta à ONU por várias organizações, estabelece o direito de animais domésticos a cinco aspectos de liberdade: liberdade da fome, sede e desnutrição; liberdade do medo e ansiedade; liberdade de tormentos físicos e térmicos; liberdade da dor, ferimentos e doença; liberdade para expressar seus padrões normais de comportamento. Se considerarmos estes princípios válidos, justos e humanitários, não poderíamos nunca considerar ter um papagaio como animal de estimação, já que o cativeiro impossibilita pelo menos quatro destes preceitos.
Lugar de papagaio é na floresta; curta-os na natureza.
fonte: ornitobr@yahoogrupo s.com.br
Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade
Jaraguá do Sul – SC
É bom ver a preocupação que vocês tem com o meio-ambiente. É cativante!
É isso aí. Tanto cachorro e gato precisando ser adotado, e uns babacas querendo papagaio do mato… Se ninguém mais comprasse papagaio, não haveria mais tráfico! E os bichos não seriam capturados. Milhares por ano…
Parabéns pela matéria.
Veja o que diz o Dr. Jacques Vielliard – renomado ornitólogo, especialista em bioacústica, Professor da Unicamp, Doutor em Ecologia, Membro da Academia Brasileira de Ciências:
A imitação da vocalização humana nos papagaios não é um comportamento natural, mas por uma situação de stress. Apenas em cativeiro e quando isolados, é que encontramos papagaios “falando”. É um grande erro declarar que esse comportamento indica que o animal está “feliz”. Ao contrário, indica que o animal, por mais bem tratado que pareça, está em condição de stress.
(págs. 10 e 11 na Introdução do livro: “Biologia da Conservação – caso do papagaio-charão e outros papagaios brasileiros” de Martinez, J. e Prestes, N.P. orgs., 2008)
ghi uyijgknjghkyjhjy
natureza procura fruto alimento como cacau e etc…
Confesso que fiquei bem desanimado com isso. Sempre gostei de papagaios e sempre quis ter um, nunca tive (inclusive estava procurando na net umas dicas de como tratar bem de um). Mas este artigo me parece bem esclarecedor, sobretudo no que diz respeito ao comportamento, já que pensava que eles estavam felizes quando cantavam.
Olá Vinícius,
isso mesmo, as aves que vivem confinadas e perdem sua função no ecossistema bem como as habilidades de voar e caçar, realmente apresentam ao longo do tempo, sinais de estresse e depressão, afinal elas são privadas do contato com a Natureza que é seu habitat natural e não podem perpetuar a espécie.
Quando quiser um animal de estimação, prefira sempre cães ou gatos.
Abs,
Bruna Rosalem
gostei da matéria, mas gostaría que me informasse se o estres do mesmo ñ seria por falta de alguma vitamina ou cálcio? e o que poderia dar…..
Olá Judite,
na maioria das vezes, as aves que vivem confinadas em cativeiro domésticos ficam estressadas pela falta de atividade, ou seja, essas aves necessitam procurar alimento, nidificar e perpetuar a espécie na natureza. Como estão privadas de liberdade, elas praticamente não tem o que fazer. Já imaginou viver presa sem haver nenhum atrativo ou alguma atividade para se exercitar? Isto acontece até com nós seres humanos, nós precisamos praticar alguma atividade, seja trabalhar, ir à escola, fazer amigos e tudo mais, pois ao contrário disto, também poderemos ter depressão. É exatamente o que acontece com os animais silvestres. Eles não são domésticos. Não são animais de companhia para o homem, pois eles têm seu papel no equilibrio do ecossistema, portanto sua natureza está definida para este fim. Não importa se na gaiola você oferecer ao animal a melhor comida, ele nunca estará, digamos, feliz.
É muito triste que as pessoas retirem todo ano milhares e milhares de animais silvestres da natureza, além de desequilibrar a fauna, ainda contribuem para que tal ave não se reproduza mais.
Fica aí o recado.
Abs,
Bruna